Navegando on-line por aí peguei uma notícia caça-cliques, que como o próprio nome já diz - e foi bem eficiente, existe para que você entre na história muito mais pela curiosidade ou pelo absurdo do que pela importância: “Conheça a paulistana que tem o corpo mais perfeito do mundo, segundo IA”.
Bem, antes que minha esposa fique brava e os abutres de plantão também me acusem, eu cliquei na notícia porque para mim ela nem ou pelo crivo da curiosidade, mas sim pelo absurdo da informação: quer dizer, então, que a Inteligência Artificial, que poderia ser usada para tantas coisas boas, vai julgar quem é corporalmente perfeito ou não? Socorro, né?
E pior do que usar a IA para essa coisa horrenda, é saber que em pleno século 21, quando estamos tentando fazer do mundo um lugar muito mais diverso, em que a aparência não seja um fator de exclusão, aparece algo do tipo e joga areia em todas as nossas recentes conquistas.
São inúmeros e assustadores os casos de pessoas, principalmente adolescentes, que não conseguem lidar bem com os padrões estéticos de beleza que o sistema capitalista impõe: uma magreza desproporcional e partes do corpo infladas artificialmente.
São maiores ainda os casos de depressão, de automutilação, de comportamentos antissociais por medo do julgamento alheio.
E tudo isso piora em uma época muito triste para quem sofre com essa padronização descabida. Vêm aí Natal, ano novo, férias, praia, convivência pessoal ao extremo, tudo que acaba com a paz de quem não deseja se expor.
Enfim, li a notícia até o final e piora porque a Inteligência Artificial escolheu o corpo desta mulher a partir dos seguintes fatores: “saúde, força, simetria, proporção e harmonia geral”.
Não sei o que quiseram dizer com “saúde”. Será que a moça fez um exame e mandou para a IA para dizer que o colesterol dela estava ok? De toda forma, estão aí os padrões que os autores desta ideal genial escolheram para dizer quem é perfeito ou não.
A menina “perfeita”, então, ao ser entrevistada, soltou uma frase não menos forte, simétrica, harmônica e proporcional à importância do título que recebeu: "Ser reconhecida como a 'Mulher Fitness Perfeita' é incrível".
A gente merece!
