Depois da vigília 1a4ht

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OPINIÃO - Raul Borges Guimarães 2fy54

Data 08/06/2025
Horário 05:00

Cheguei de viagem de São Paulo depois da hora grande. Para chegar em casa, ei primeiro por São José do Rio Preto e Araraquara. Abertura do encontro de cultura, saudação no encontro dos centros de línguas e desenvolvimento de professores, visita na empresa Paulista Junior, boa conversa com os amigos do Departamento de Economia e do Educaxé. 
Há dias em que tudo parece apertado: o sapato, o relógio, os compromissos, os discursos prontos. Não foi o caso desse longo dia. Tive encontros com muita gente amiga, que quer fazer e acontecer a arte e a extensão no meio universitário. Eu estava feliz de saber que somos um grupo cada vez maior que acredita que a vida, às vezes, se esconde justamente ali, onde ninguém procura: nas bordas do silêncio.
Quando meus pés estão inchados e demoro para cair no sono, gosto de ouvir o que a cidade pensa que ninguém está escutando. Percebi que a cidade não estava adormecida. Ruídos moles, discretos, quase tímidos: o trinco da janela do vizinho que se fecha devagar, o estalo das folhas secas que o vento recolhe sem pedir licença, uma gargalhada perdida lá do fundo do quintal da casa ao lado. Talvez uma coruja ensaia sua música como se a noite tivesse aprendido a falar em sílabas graves. Depois, silêncio. A coruja não tem pressa. Ela entende a linguagem da espera. Olha como quem pergunta sem dizer nada.
Esses instantes miúdos — que não rendem manchetes, que não viram pauta de reunião, que não se anotam em agenda — são, talvez, os mais necessários. São eles que ensinam que o tempo não precisa correr para ser vivido.  A coruja trazia nos olhos um mundo inteiro ainda por inventar. Sorri para ela, recolhi as pequenas sobras dos sussurros das sombras, entre o barulho do mundo e o silêncio que resta. Escrever talvez seja isso: saber onde o silêncio cabe, observação, vigília. Por frações de segundos, acho que adormeci, numa espécie de mergulho coordenado entre o biológico, o sensorial e o invisível. Vi a minha infância saltar: o quintal, as pipas na tarde de domingo, a primeira vez que desenhei um mapa no chão com um galho, a minha mãe pendurando roupas no varal, o caderno onde tentei escrever as primeiras letras e desisti antes do fim. 
Acordei com o coração mais calmo, virei para o lado sem abrir os olhos. Lá fora, a madrugada ainda era dona do mundo. Aos poucos, os pensamentos viraram bruma. A razão dorme e pousa no chão escuro do inconsciente. A respiração desaperta, os músculos esquecem a luta e tudo se desfaz: o peso da agenda, a frase interrompida, o medo do amanhã. 
 

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